terça-feira, 15 de março de 2011

Cold Blood



   Vejo meus sonhos morrerem. Eles estão escorrendo pelas minhas mãos, estão indo embora. Eles estão no meu sangue e estão escorrendo pelo chão. O chão, o lugar onde pisamos, onde fui pisada. Onde nasceram meus pesadelos e agora morrem meus sonhos. Meus sonhos. Eu os quero de volta, em forma de realidade. Nem me lembre da realidade. Ela é a materialização dos meus pesadelos.
   Então tudo se mistura. Nos pulsos que cortei agora jorram sangue, numa tentativa inútil de tirar você de mim. Se o meu amor por você corre em cada célula sanguínea, se é você quem me move e me faz viver, eu não quero mais isso. Só não quero, porque você me abandonou. Só não quero, porque não suporto mais amar-te a cada batida do meu coração. Por que me deixou?
   Você era todos os meus sonhos. Você era todo o meu mundo. Você era meu. E me deixou. Meus sonhos agora são apenas ilusões, o meu mundo agora está repleto de frustração. Onde, por favor, onde está você?
   Era o seu amor que me dava ânimo, era a sua cobiça que me dava auto-estima, eram suas palavras que me reconfortavam. E agora, onde acho suas palavras? Apenas nas lembranças. E o silêncio da minha alma me incomoda.
   Não quero viver de passado, mas quero você. Já que não posso estar no presente e ter-te ao mesmo tempo, prefiro "viver" o futuro, morta. Gélida, sem pensamentos, sem sentimentos, sem vaidade, morta.
   As lágrimas a quem sou tão acostumada reaparecerm e tocam o corte. Ele arde. É como se você estivesse no meu sangue escorrendo e as minhas ilusões e fracas esperanças o tocassem na forma de choro e te incomodassem.
   Quando minha vista começa a ficar turva e a pele bem mais pálida que o necessário, decido resistir mais um pouco. Só por você.
   Parece que quando as lágrimas se chocaram contra meus pulsos, foi como se você alimentasse minha ilusão, o que vai me fazer sofrer, como o corte que arde, mas que vai me manter viva até o momento em que eu te reencontrar, olhar nos teus olhos, te dizer como o amo e te pedir perdão. Ou esse momento pode nunca chegar, o que é mais provável, e essas palavras ficarão guardadas em mim para sempre.
   Se você é o meu mundo, e a Terra é o seu, talvez ela ainda me pertença um pouco, muito pouco, mas o suficiente para me fazer estancar o sangue e viver, mesmo que tão longe de você. Então fecho o corte, coloco uma munhequeira e me levanto, seguindo com os olhos frios e vazios o caminho que o destino, se é que ele existe, traçou para mim.

-      Autoria Própria.



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